domingo
já foi o tempo em que o botão tinha três únicas funções: ligar, desligar e mudar de canal. as máquinas de hoje tem teclas com multi-ações. mas não só os televisores [principalmente os pacotes de canais fechados] e seu super-controles anatômicos e cheios de teclas inovaram. chegamos a era da informação e à invenção do computador. desde então, o jornalismo ganhou um mouse com dois botões coringas e o antigo teclado da máquina de escrever cheio de aprimoramentos: muito mais leve, dinâmico e com backspace! esta facilidade técnica permitiu uma relação simbiótica entre homem-máquina. e a máquina está cada vez mais viva! o jornalismo na web também...
o leitor de web opina notícias, não mais com o vizinho de bairro, mas com todos os outros leitores dela. e além da ferramenta comentários e de fóruns de discussão [o DEBATE Época], é possível participar de chats, trocar e-mails com jornalistas, enviar vídeos, fotos e até acrescentar informações à própria notícia [vide os sites de informação no formato da wikipédia e desciclopédia, por exemplo]. como amplia Lemos e Mielniczuk, trata-se de uma multi-interatividade, que perpassa relações com a máquina, com a própria publicação e outras pessoas – autores ou outros leitores.
e por que não o simples hiperkink ser visto como mola da interatividade? o leitor de hoje escolhe o que exibir, até onde ler, a que se expor através do hipertexto. prova disso é o webjornal The Falling Times. nele, as notícias viram arroz de festa e caem sem parar subvertendo o modelo de chamadas de capa, sessões ou submenus. o sorriso de Hillary escorre pelo cantinho da tela enquanto uma vaquinha gira sem parar e opa! Bento XVI cai ao mesmo tempo em que dois ícones fazem sexo! a estratégia é que cada ícone leve a uma notícia, algo que faria Peirce morrer de inveja! a desordem gráfica leva a uma não-hierarquia dos textos. para completar, o The Falling conta com a opção Participate, onde os leitores podem inserir uma notícia e vincular a uma palavra-chave que, caso já tenha predefinido, gera um ícone na página principal. “You are creating the news”, dizem os editores. “You are the newsmaker”!
terça-feira
som, imagem e caracteres num só lugar. a internet possibilitou ao jornalismo um fenômeno que revolucionou a segmentação da comunicação, antes caracterizada pela presença de vários nichos (impressos, televisão, rádio etc.). com a multimidialidade, todos estes nichos/formatos foram engolidos por um suporte de multiformatos, que é a internet. a convergência possibilitou que o texto, o áudio, o vídeo e as demais artes visuais adentrassem a rede para agregar informações, simultaneamente, sobre um fato, notícia. com as novas tecnologias da informação, os jornalistas têm em frente um desafio: propor modelos além da pirâmide invertida ou do “off-sonora-passagem-off-sonora-off”. está nascendo um novo código, um código híbrido que permita como nos apresenta Machado, um “discurso áudio-tátil-verbo-moto-visual”. um bom exemplo de convergência midiática é o grupo Globo. primeiro, porque detém inúmeras mídias [editora, jornais, revistas, rádios, televisões e... sites!]. segundo, porque é um bom exemplo deste estágio inicial de convergência, onde materiais dos demais suportes recebem uma edição personalizada para entrarem na pauta dos meios eletrônicos e começam a se prestar não a uma mera reprodução de informações, mas a agregar valores atrativos e propor novas experiências do leitor com a notícia.
é o caso da notícia a seguir, que conta com material áudio-visual, além do texto.
Padre deixa de beber vinho na eucaristia para cumprir 'lei seca'
na web, ninguém escreve sozinho. isso porque o link é um caminho com muitas voltas. muito mais prático que qualquer citação, rodapé e bibliografia nos moldes da ABNT, as referências no jornalismo on line criam um discusso dinâmico, fluido, não-linear. se repararmos, a disposição das informações na grande rede é bem mais verossímil que as estruturas engessadas das pirâmides invertidas. além do espaço [infinitamente maior], as notícias criam volume, encostam-se, agrupam-se, complementam-se e, certas vezes, dialogam entre si, mapeando um verdadeiro panóptico para cada acontecimento.
alguns teóricos defendem que a passagem do feixe de luz por cada uma das “celas” segue uma ordem imprevisível [ao contrário do panóptico e sua trajetória linear sobre seu próprio eixo]; outros acreditam que nós, soldados-internautas, estabelecemos nossa própria linearidade - “específica, provisória, provavelmente única” – e com inúmeras possibilidades de continuidade, portanto, multilinear.
o fato é que ninguém sabe onde exatamente vai dar o link, se numa fotos, vídeo, animação, num site relacionado, material de arquivo ou anúncio publicitário. a pergunta é, se de certa forma, através dos hiperlinks, “somos compelidos a seguir associações existentes, objetivas e pré-programadas” – palavras de Manovich – até que ponto estes recursos são mesmo hiper e multilineares?
uma observação cautelosa do site da Folha Online - segundo eles mesmos, “o primeiro jornal em tempo real em língua portuguesa” - confirma a multilinearidade duvidosa com que navegamos na Internet. vejamos:
selecionamos [nem tão aleatoriamente] a inusitada notícia:
"Barriga de chope" tem causas genéticas e comportamentais
observem que, no corpo principal da página, ela não vem sozinha. obviamente conecta-se com matérias de assuntos relacionados. mas, nos digam, o que significa aquele link sobre um “roteiro de cultura e diversão da Internet” ? e os produtos da livraria folha? é por exemplos assim que esta multilinearidade é, em certos casos, excessivamente direcionada de modo a instaurar “interconexões de cabresto”, a serviço de questões mais comerciais que informativas.
o blog Passarinho não lê, aplicação literária da água que passarinho não bebe, saiu do ninho treinado para um único destino: transformar-se num guia prático da esbórnia, da bagaceira e da bebedeira.
convocamos todos ébrios e desvairados a participarem desta incursão aos quintais mais boêmios desta cidade embriagada por natureza, que é Salvador.
o Passarinho terá um pouco dos lugares inusitados que acolhem pândegas noturnas e folganças diurnas, encharcadas de álcool etílico e copos cheios.
bares de esquina, puxadinhos, casas de vinhos, botecos, adegas, chopperias, botequins e toda a gente que prepara e vende, que bebe e absorve.
mas como bons amigos de cachaça que somos, levaremos em conta a experiência do macaco velho e a falta de habilidade do ainda ontem iniciado... seremos perspicazes novidadeiros e um tanto didáticos.
nosso compromisso não é com a saúde, com a gastronomia, com a cultura, com a política ou com a economia, apesar de o nosso tema estar em tudo, da pança ao presidente.
a intenção é fazer um jornalismo folgazão e levar até você uma boa história, uma deliciosa trama, uma curiosa cena, ou uma figura inusitada, como se num bar estivéssemos e a saideira pedíssemos.
dos ébrios de coração,
maria, brumna e ronney
isso é água que passarinho não bebe...
conta Mário Prata, em suas invencionices divertidas, que a expressão é datada de 1938, quando seu tio avô, Alaor Prata, era prefeito do Rio de Janeiro – na época, capital do país. o registro encontra-se no livro Mas Será o Benedito?, obra em que ele gasta o latim para carnavalizar os ditos populares brasileiros.
sucedeu, ele explica, que uma praga denominada "lacerdinha", inseto pequeno e preto, eficiente sugador da seiva da planta, pôs o governador do Rio alarmado. a solução foi trazer de África milhares e milhares de pardais, que poriam fim a tal peste.
os pássaros chegaram, a praga sumiu, os pássaros se reproduziram aos montes e outra praga surgiu. os pardais infestaram a cidade e o país.
como exterminá-los? eis que resolveram: colocariam cachaça nos bebedouros públicos. só que ao invés de morrerem, os passarinhos multiplicaram-se ainda em maior velocidade. ou seja, passarinho pode até não ler, mas são bons de bico sim.